Retorno à Vida

Estou aqui outra vez
Perdida nos sonhos,
Nas palavras, nos momentos

Estou aqui de novo
Procurando neste ar
As recordações,
Memorizando a saudade

Estou aqui mais uma vez
Pensando, amando, sofrendo,
Buscando as asas...

Estou aqui.
Poeta pobre
Poeta triste
Poeta cansado
Poeta calado
Gritando
Estou aqui outra vez!

Luz Maria Eurico Cruz
25 de Novembro 1977

Bixomem

O que há de animal no homem é querer
Subir a qualquer preço
Comprar a todo o custo
Comer com toda a avidez
Pisar a toda a oportunidade
Matar todo o rival
Para pensar que ama
Para sentir que vive
Para achar que é.

O que há de animal no homem é não ver o quanto há de humano
No cão da sua casa
Na ave que atinge o céu
Na árvore que cresce dando sombra...
Para tudo o que há de animal no homem.

Luz Maria Eurico Cruz
25 de Novembro de 1977

De dentro

Alguma coisa sai daqui
Quando eu luto
Quando eu choro
Quando eu imploro
Quando eu amo
Quando agarro esta vontade de lembrar
Que a hora é minha
Que o lugar é meu
Que o corpo é meu
Que a vida é minha

Alguma coisa sai daqui quando eu não quero deixar que entrem
Preconceitos
Propostas
Comodidades
Conformismo
Alienação a tudo o que eu
Quero que entre
Quero que me tome
Quero que penetre em mim
De você
Do bicho
Do voo
Da folhagem
Do azul
Do claro da àgua

Alguma coisa sai daqui nos momentos em que eu vivo.

Luz Maria Eurico Cruz
25 de Novembro de 1977

Lá no brilho do fim

Lá no horizonte eu vejo
Um sol brilhando
Uma ave passando
Uma árvore crescendo
Uma montanha escurecendo
E um poeta que vê lá no horizonte o brilho do amanhã, do amor, da vida
Lá no horizonte eu me vejo...

Luz Maria Eurico Cruz
25 de Novembro de 1977

Gritando Baixinho

Falo muito nos sonhos
Falo muito nas asas
Falo muito nas mãos
Falo muito nos sentimentos
Falo muito no horror
Falo muito em vida
Falo muito...
Mas, meu Deus!
Como eu gostaria de gritar!

Luz Maria Eurico Cruz
25 de Novembro de 1977